quinta-feira, 8 de outubro de 2009

• Gestão e Custos - Artigo LML


Gestão: a falta de agilidade do governo tem custos altos

Luis Mário Luchetta*

Ninguém no Brasil duvida de que as nossas estruturas públicas governamentais carecem de ferramentas institucionais e tecnológicas de gestão que lhe proporcionem maior eficiência, eficácia, profissionalismo, modernidade e transparência.

A população exige planejamento, correção de desvios, prevenção de riscos, equilíbrio das contas, cumprimento das metas, diminuição do déficit público, redução da dívida, rapidez e eficiência no atendimento e muita clareza na destinação dos recursos públicos. Ufa! Parece uma tarefa impossível, mas tem que ser iniciada, sem o que nossos administradores públicos jamais poderão atender, de forma satisfatória, a sociedade e as inúmeras exigências que esta lhes impõe.

O desconhecimento, por parte de nossos governantes, das metodologias mais atuais e das ferramentas de ponta que irão auxiliar a gestão pública, e de como aplicar a Tecnologia da Informação para atender as várias necessidades da sociedade com serviços de elevada qualidade, são ainda hoje as principais causas para a pequena eficiência das nossas máquinas governamentais.

Além disso, projetos de lei que tramitam na Câmara Federal, como o 1739/03, que obriga o administrador público a comprar itens de informatização em concorrências separadas, reforçam o atraso. Os nossos homens públicos, ao invés de se preocuparem com a identificação das demandas da população e priorização de seu atendimento; com a busca de investidores internacionais; o mapeamento e a otimização de seus processos e atividades; e o uso das técnicas modernas de gestão de projetos, de modo a assim criarem a base para a elaboração e execução de um consistente plano de investimentos; não o fazem, e ainda se arriscam a querer aprovar leis retrógradas como essa.

Nossos governantes precisam encontrar seu foco, que é a melhoria dos serviços básicos e essenciais para a população, deixando para a iniciativa privada, através da livre concorrência, o que pode ser realizado na área do aprimoramento das soluções de gestão.

Segue o que foi mostrado no Congresso de Informática Pública, a partir de pesquisa realizada com 300 profissionais de tecnologia atuantes em governo, durante o mês de dezembro de 2004: A maioria das entidades governamentais municipais, estaduais e federais prefere desenvolver sistemas próprios de Tecnologia da Informação do que terceirizar o processo. Segundo o estudo, 80% dos entrevistados afirmaram que os órgãos públicos em que trabalham preferem elaborar os sistemas internamente. Apenas 20% dos profissionais indicaram a contratação de empresas especializadas para essa finalidade. De acordo com Vagner Diniz, diretor do CONIP, o setor público apresenta restrições à terceirização em virtude do temor de repassar para o setor privado o conhecimento sobre as tecnologias do governo. ‘Se essa barreira fosse quebrada teríamos um aumento nesse mercado [de terceirização] de maneira significativa’, afirmou Vagner Diniz, diretor do CONIP. Os executivos também afirmaram ao CONIP o percentual que os órgãos públicos costumam investir em informática. Cerca de 40% dos entrevistados informaram gastos acima de 3% do orçamento em tecnologia, enquanto 34% alegaram investir de 1% a 3%, ao passo em que 26% investem 1% ou menos da verba” (fonte: IDG Now).

Um outro aspecto também merece nossa atenção: hoje, muitos governantes ainda defendem no país o uso do “software aberto”, sendo alguns conscientes dos benefícios que ele possa trazer, embora a maioria certamente o faz por demagogia e completo desconhecimento. Sobre esse assunto, já tivemos a oportunidade de externar, em artigo anterior, a verdade que aqui repetimos: a melhor solução para os governos é que sejam adquiridas aquelas soluções específicas que possibilitem com que as máquinas administrativas funcionem adequadamente e atendam bem os nossos cidadãos. Para isso, devem levar em conta o melhor custo da solução completa (diagnóstico + planejamento + software + hardware + desenvolvimento + implementação + treinamento + manutenção + suporte/continuidade), avaliando e comparando, sem paixões nem politicagens, qual o software mais adequado para cada situação, se aberto ou comercial. Nesse procedimento, entretanto, é preciso lembrar que a definição por uma única plataforma, seja qual for, significa retrocedermos para a malfadada época da reserva de mercado. E isso ninguém mais deseja para nosso país!

Governar é complexo, mas sem ser difícil, desde que exista gestão eficiente. O que estamos constatando, porém, é que o excesso de desconhecimento está contribuindo para que iniciativas indispensáveis, como a modernização da máquina pública, sejam vencidas pelo autoritarismo e pelas ações de poucos, que são realizadas em defesa de interesses específicos e em prejuízo do aumento da eficácia da máquina pública.

E é bom dizer que, nisso tudo, o governo não está sozinho! Na pouca e ineficiente utilização da Tecnologia de Informação no setor governamental, alguns empresários da área também contribuem para o atraso, quando praticam a falta de união, e quando, sem capacidade para o desenvolvimento de negócios viáveis, aplicam seus investimentos na crítica e na destruição do que seus colegas estão conseguindo construir.

O setor de TI é novo se comparado com outros, que são seculares na economia. Para o bem do país, as vantagens da produção do setor precisam ser percebidas urgentemente por todos os governantes, que necessitam entender que é muito mais viável aplicar recursos na otimização e automação dos processos das máquinas públicas, do que despejar dinheiro, por exemplo, na divulgação de seus prometidos feitos, muitos dos quais não saem dos discursos e da propaganda bem elaborada.

Dinheiro público investido na modernização, otimização e automação de processos revisados e em Tecnologia da Informação, é legado que fica para o país, para a continuidade sem percalços da máquina pública e para a população. Para isso, cabe apenas ao governo formular políticas e decidir, deixando a execução para os empreendedores nacionais especializados, que são mais eficazes que o governo e que executam programas e projetos a custos muito mais compensadores para os cofres públicos.

A cada dia, com o trabalho de excelentes empresas de TI que nosso país possui, o setor deverá crescer de forma acelerada na área governamental, pois afinal, a população não suporta mais os altos custos das administrações públicas ineficientes.

Maio/2005

* Luís Mário Luchetta é presidente da Associação das Empresas Brasileiras de Software, Tecnologia da Informação e Internet – Assespro Regional Paraná.